Através da nanotecnologia, que manipula objetos na escala dos átomos, o bagaço que sobra da moagem da cana-de-açúcar pode dar origem ao carvão ativo, um dos principais componentes dos sistemas de purificação da água e do ar.
O método, desenvolvido por brasileiros, também produz uma cobertura especial de partículas de prata no carvão ativo, com capacidade antimicrobiana (eliminando, por exemplo, bactérias nocivas da água).
“O trabalho surgiu a partir da demanda de uma usina de álcool, que tinha interesse em dar um destino mais adequado ao bagaço, de preferência produzindo algo com valor agregado”, explica o químico Mathias Strauss, do LNNano (Laboratório Nacional de Nanotecnologia), que fica em Campinas (SP).
Um terço das mais de 655 milhões de toneladas anuais da safra brasileira de cana, corresponde ao bagaço da planta após a produção de açúcar e álcool. Já existem iniciativas para usar esse excedente de matéria orgânica como fonte de energia ou para a produção do chamado etanol de segunda geração (obtido a partir das partes quimicamente mais “duras” da planta), mas em escala relativamente modesta.
Por outro lado, o bagaço seria uma matéria-prima interessante para a obtenção do carvão ativo (ou ativado), material produzido fora do país, a partir de fontes como cascas de coco ou ossos.
“Do nosso ponto de vista, no estágio de bancada, é uma tecnologia praticamente pronta. É preciso agora o interesse empresarial para que ela ganhe uma escala maior”, diz Strauss. Enquanto isso não acontece, testes de campo da tecnologia já estão sendo feitos em território chinês, por meio de uma parceria organizada pelo Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia.
“Em túneis da rede viária da cidade de Xangai, o carvão ativo brasileiro está servindo para retirar parte dos poluentes que ficam parados no ar naquele espaço reduzido. Outras aplicações incluem o tratamento de esgoto e o de água para consumo humano.
Fonte: Folha de São Paulo.