A busca por informações sobre manejos mais sustentáveis e econômicos em relação ao sistema convencional de cultivo atraiu mais de 400 produtores rurais, técnicos, profissionais e pesquisadores do agro de todo o país ao 3º Dia de Campo da Soja – Safra 2016/17 nessa quinta-feira (19), em Mineiros (GO). Um destaque da programação na Fazenda Babilônia foi a adubação com pó de rocha ou remineralizadores de solo, da qual o proprietário Rogério Vian é adepto.
Entusiasta do pó de rocha, Rogério introduziu essa prática num talhão de 54 hectares e, gradativamente, a implementou em toda sua área. “Já são 10 safras (verão e safrinha) e a diferença mais gritante é a redução de custos, sem afetar a produtividade. Consegui diminuir 80% dos gastos com fertilizantes em relação à adubação convencional”, comentou. No primeiro ano da rochagem, o gasto “empata” com a fertilização tradicional, afirmou Rogério, porque são necessárias 5 toneladas de pó de rocha por hectare. Mas o custo é diluído com o tempo, já que esse tipo de adubação não requer adubações sucessivas.
Além de observar expressiva queda nos gastos com adubação, o produtor percebeu melhorias na qualidade do solo, presença de “mais vida” na terra e incremento de matéria orgânica. “O sistema vai mudando como um todo, não é só o pó de rocha; tem o uso de mais bactérias, tratamento de sementes sem químicos. Evito aplicar glifosato perto do plantio para não ter danos. Você vai aprendendo, gostando e se sentindo capaz de tocar as lavouras sem químicos”, ressaltou Rogério, que a 20 dias da colheita afirmou ter talhões onde não fez sequer uma aplicação química. Entre as “novidades” testadas na propriedade está a pulverização com calda bordalesa, fungicida em desuso na agricultura moderna.
“Estamos buscando essas alternativas para que o produtor não fique dependente das empresas de produtos químicos. Essa experiência na fazenda do Rogério nos dá outro caminho, em busca de uma fertilização e manejo de pragas mais natural, com produtos à base de bactérias, fermentados e outros agentes biológicos. Nós podemos ter um controle eficiente, mais barato e menos danoso ao meio ambiente”, comentou Bartolomeu. “É muito positivo tudo isso, vejo como o futuro da agricultura e espero que a gente possa disseminar essas informações para que mais produtores façam a experiência e possam obter os mesmos resultados vistos por aqui”.
ROCHAGEMA Lei nº 12.890/13 instaurou o marco legal da rochagem no Brasil, possibilitando que remineralizadores de solo possam ser registrados e comercializados. Pesquisador na Embrapa Cerrados, o geólogo Éder de Souza Martins ponderou que nem todo pó de rocha pode substituir a adubação convencional; depende do material de origem de onde se extrai o pó, que deve ter granulometria similar a do calcário.
Em Aparecida de Goiânia (GO), por exemplo, está localizada uma fonte de micaxisto, rico em potássio, que pode até substituir adubos à base de cloreto de potássio, segundo Martins. Apesar de essa pedreira abastecer muitos produtores de Goiás que fazem adubação com pó de rocha, o pesquisador explicou que o ideal é encontrar minas regionais, pela viabilidade do frete e também porque “cada ambiente agrícola tem sua fonte de remineralizadores na própria região”. Para levantar essas informações, a equipe de Martins vem realizando o zoneamento agrogeológico do Cerrado e do Sul do País.
Dentre as vantagens do pó de rocha, o geólogo da Embrapa destacou a geração de minerais 2:1 (argilas como vermiculita e esmectita) no solo e maior eficiência na liberação de nutrientes para as plantas. “As rochas são complexas, compostas de vários minerais que reagem de forma distinta com o solo. Mas sem atividade biológica, a rochagem não funciona. Os microrganismos interagem com o pó de rocha, elevando muito a CTC [Capacidade de Troca de Cátions] do solo”, informou Martins.
CORAGEM PARA MUDARProdutor de grãos em Silvânia (GO) e associado da Aprosoja-GO, Clodoaldo Calegari viajou mais de 600 km até a fazenda em Mineiros, interessado em conhecer as práticas apresentadas no dia de campo. “A gente tem que buscar novas tecnologias para obter formas de melhorar nossa margem de rentabilidade, pois nossa produtividade vem crescendo lentamente enquanto os custos estão se elevando cada vez mais”, disse. “É frequente a visita de fornecedores querendo nos vender produtos diferenciados, mas essas discussões com pesquisadores de alto nível, experiências e opiniões dos próprios usuários das tecnologias são até mais importantes que a dos fabricantes”, afirmou Clodoaldo.
Em sua propriedade, ele vem trabalhando com manejo fisiológico de plantas, mapeamento de adubação e, mais recente, começou a utilizar produtos biológicos. “Quando você consegue a interação entre biologia do solo, matéria orgânica e fertilidade, os resultados são bastante interessantes”, destacou. Para Clodoaldo, o produtor rural tem certa dificuldade de sair de sua zona de conforto. “Se a gente não correr atrás, vamos continuar no mesmo lugar. A gente vai pescando ideias e trazendo para nossa realidade, começando devagar, avaliando, adaptando. O principal entrave ainda o medo do novo. Mas se o pessoal está procurando [como demonstra o grande público do evento] é porque está interessado.”
O anfitrião Rogério Vian concorda com Clodoaldo, lembrando que é preciso coragem para mudar. “A primeira prova de coragem é tirar o adubo, depois você começa a tirar outras coisas e vai aprendendo com o que a natureza ensina todo dia. É só prestar um pouco de atenção, estudar e procurar quem entende do assunto e já fez essas mudanças.”
Fonte: Aprosoja – GO Curta nossa página no Facebook!