Por meio da autonomia na coleta de dados meteorológicos, startup planeja atingir dominância no mercado de Analytics (para além do agro)
Por Marina Salles e Vitor Lima
Uma cabine telefônica, uma mini-biblioteca, uma sala de reuniões, três bancadas com computadores, algumas invenções e troféus compõem o cenário da SciCrop. Poucos recursos físicos, muitos recursos humanos. Ali, aqueles que se dizem orgulhosamente “nerds de TI” prometem resolver problemas de dados dos mais impossíveis para as 500 maiores empresas do agronegócio. Na cultura da startup, o lado técnico é inegociável e do mais novo estagiário ao CEO todos têm que saber programar. “Para nós, da SciCrop, nenhum dado é inalcançável”, diz José Damico, CEO e co-fundador do negócio, que fez da computação sua arte, aprendida desde cedo em casa, por influência do pai e dos irmãos.
A família, protestante e de amantes da matemática, sempre teve uma crença: “Deus é o dono de toda a ciência”, e a religião e a ciência sempre acompanharam Damico. Seu pai é contador de formação, uma sumidade em auditoria, embora seu sonho fosse ser engenheiro. O irmão mais velho, Paulo, é pastor, químico de novos materiais e mestre em física quântica. Jorge, o do meio, estudou para ser especialista em eletrônica. Foram eles que apresentaram a Damico a internet e depois o sistema Linux ainda nos anos 1990, suas paixões. Damico é o mais novo do trio e nunca considerou ter a genialidade que atribuía aos irmãos. “Eu tinha a autoestima baixa embora fosse muito falante e extrovertido. Lia bastante desde pequeno, só não queria estudar. Matava aula, repeti a quinta série e não consegui terminar nenhuma das cinco faculdades que comecei”.
O menino tinha uma vocação: nasceu para empreender, como logo cedo percebeu sua mãe, quando o filho de cinco anos pediu dinheiro para montar um galinheiro e vender ovos. Aos 43 anos, Damico traça a meta de faturar R$ 46 milhões com sua startup no ano de 2025, quando a SciCrop completará uma década no mercado.“Quando você é bom em alguma coisa, precisa honrar seu dom e permitir que outras pessoas se beneficiem dele. O meu está na computação”, diz. Partindo de um sistema que saiu da cabeça de Damico, hoje a SciCrop monitora mais de 7,5 milhões de hectares no Brasil, tem 5,1 milhões de fazendas mapeadas e acompanhadas regularmente, atende cerca de 60 multinacionais e mantém mais de 100 iniciativas de Analytics em clientes corporativos.
Para continuar crescendo, captou R$ 2,15 milhões via financiamento coletivo em 2021. Antes disso, tinha recebido um aporte, no início da sua história, da consultoria MBAgro. “A sociedade com a MBAgro foi escolhida a dedo, pela expertise em dados e o relacionamento com a cadeia que eles têm, e que nos abriu muitas portas”, diz Damico. Nos últimos 20 anos, a empresa de inteligência de mercado se especializou em fazer pesquisa econômica na agricultura e criou um banco de dados nacional e internacional com informações de clima, comércio exterior, macroeconomia, modelos de previsão de safra, balanços de oferta e demanda, inflação agrícola etc, conta Alexandre Mendonça de Barros, da MBAgro.
“Diariamente analisamos dados, fazemos projeções, ajudamos nossos clientes a tomarem decisões difíceis em um ambiente de alta incerteza, e logo vimos que a SciCrop tem uma competência absurda em juntar informações de maneira organizada para resolver problemas concretos com volumes de dados impressionantes”, diz o sócio da MBAgro — que se lembra, como se fosse hoje, do primeiro encontro com o time da startup. “Conheci a SciCrop através de um cliente que participava de programas de apoio ao desenvolvimento de startups e, de cara, eu gostei demais. Primeiro, do espírito genuíno de ajudar as pessoas e as empresas do agro. Segundo, da capacidade técnica. José Damico é muito preparado, criativo, empreendedor e transparente”, reconhece Barros.
Atualmente, a estrutura societária da SciCrop está dividida entre os sócios-fundadores (63,2%), a MBAgro (24,6%), investidores Eqseed (7%), Rural Ventures (0,6%) e colaboradores (4,6%). Em 2021, o valor de mercado da SciCrop foi calculado em R$ 28,6 milhões (na rodada de investimento na plataforma Eqseed). Em 2022, a expectativa é diversificar o leque de culturas atendidas com a receita bruta vindo de clientes da cana-de-açúcar (26%), setor financeiro (22%), grãos (21%), alimentos (14%), insumos (2%) e outros (15%).
Da primeira à última startup
Ainda muito novo, Damico conheceu sua futura esposa, Andrea — com quem se casaria aos 21 anos — e foi da relação com a família dela que nasceu sua primeira startup. O sogro tinha um negócio de autopeças e enfrentou dificuldades na época do surgimento de grandes centros automotivos. “Começamos a ver loja por loja sendo vendida e a gente entendeu que o negócio precisava evoluir”, conta. Com o aumento da concorrência foi necessário cortar intermediários para voltar a ter margem. Dessa ideia, surgiria a Cia das Compras, que estimulava pools de compras de autopeças e o contato direto com distribuidor para conseguir preços mais baixos. Até hoje, Damico integra o conselho da empresa.
Em 1996, ele entrou com os dois pés na Era da Informática e, ao lado do pai, fundou a DCON, sigla para Damico Consultoria. Ele dividia o escritório com Carlos Cêra, seu contemporâneo, que ficou conhecido por montar a Superlógica, ERP para empresas do ramo imobiliário e de educação. A DCON, por sua vez, surfou no segmento de e-learning nos anos 2000 e ajudou a montar plataformas de educação como a da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de desenvolver e dar manutenção em firewalls (sistemas de segurança de rede), naquela época muito demandados por negócios comerciais.
Mas conforme a pilha de contratos crescia, Damico virou uma pilha de nervos. “Tive uma crise de ansiedade e o sentimento de deixar as pessoas na mão me colocava num desespero maior ainda”, diz. Sob ameaça de processos dos clientes, que depois foram entendendo a situação, ele e o pai fecharam a empresa.
“Ai, eu jurei nunca mais empreender“
A fase de assalariado durou pouco menos de dez anos. Nesse período, ele trabalhou na IBM, onde seu pai faria uma carreira de 45 anos. Damico cresceu rápido na área técnica da empresa. Quase sem querer, a cultura da IBM tinha feito parte da sua criação. Depois de desbravar o mundo corporativo, sua esposa propôs que ele corresse atrás de outros sonhos, como o de ser professor. Mesmo sem diploma, ele já tinha conseguido entrar em uma das principais empresas de TI do mundo. Dar aulas, não parecia mais tão impossível.
Damico entrou na Fundação Bradesco em 2010, enquanto ainda trabalhava na IBM. “Meus alunos se davam muito bem. Ganhamos duas ou três vezes aquele prêmio Jovem Cientista, da USP. Até que o Bradesco quis contratar os melhores da minha turma e capacitá-los para trabalhar com um sistema específico. Foi assim, então, que cheguei na InfoServer”, conta. A Info Server cuidava do treinamento técnico dos funcionários do Bradesco.
A aproximação com o banco lhe renderia boas histórias na programação. Uma delas, com um sistema encantado. “Está no GITHub [plataforma de hospedagem de código-fonte] até hoje esse programa chamado Enchanted, o encantador. Seu logo é um personagem lançando um feitiço”, diz Damico. Se tratava de um software feito para adequar os sistemas do Bradesco à realidade do Windows 7, que não executava mais programas em 16 bits, apenas em 32 bits. “O ponto é que eram milhares de softwares feitos nos últimos 20 anos que iam depender do acesso ao código fonte do Bradesco para serem alterados. Mas eles não tinham isso e a Microsoft não sabia o que fazer”, conta. Ao lado de um dos seus colegas da InfoServer, o Armando de Vilhena, ele ajudou a resolver o insolucionável.
“A gente entrava no diretório da rede do Bradesco e quando batia num programa .exe de 16 bits apertava play e…enchanted, enchanted… virava 32 bits“
O sistema encantado foi um dos últimos atos antes do retorno à trilha empreendedora. Ele ainda não sabia, mas ia quebrar o juramento sobre nunca mais empreender. Ainda na InfoServer, Damico co-fundou a startup TIX 11, que nasceu do aporte da Intel Capital, o braço de investimentos da gigante mundial de chips eletrônicos.
Nos planos iniciais de Damico, a saída da TIX 11 seria seguida de um ano sabático, para pensar os próximos passos e pôr a cabeça no lugar. Ao invés disso, ele acabou se envolvendo na reestruturação de uma empresa para a EIG Mercados, de gestão de TI, o que lhe tiraria muitas noites de sono, mas traria também uma recompensa: conhecer seu sócio, Renato Ferraz, agora com 35 anos. Se Damico era o gênio dos dados, Ferraz era o das finanças e os dois começaram a montar a SciCrop.
A sintonia era tanta que só faltava um pretexto para empreenderem juntos. “Nunca foi aquele sonho de gerenciar uma empresa própria que nos atraiu, mas sim fazer algo com propósito e fora do senso comum, algo de impacto, que só numa empresa sua você tem liberdade”, diz Ferraz. Nos quase dois anos que trabalharam lado a lado na EIG Mercados, os dois puderam amadurecer o relacionamento que seria a base para uma sociedade sólida. “A gente já empreendia teoricamente, só que era com a empresa de outra pessoa. Fizemos nosso cursinho lá e, por isso, nossa trajetória não é similar à de um empreendedor de 20 anos no Vale do Silício. As coisas foram feitas com mais cautela, calma e solidez”, afirma.
O plot Twister: tudo se resolveria com coletas de dadosO sonho do que seria a SciCrop surgiu quando Damico tinha apenas 17 anos e assistiu ao filme Twister, dirigido por Jan de Bont. “Foi muito interessante esse filme sair em 1996, porque ele pegou toda a coisa das ameaças ambientais e trouxe isso na figura dos tornados. A visão do Twister é que tudo poderia ser resolvido através da coleta de dados”, diz. “O filme mostrou que a humanidade teria que construir suas próprias soluções e hackear o sistema”, conta Damico com empolgação. A trama discorre sobre como a coleta de dados se tornaria fundamental para entender melhor as mudanças climáticas e prever o futuro.
O desafio, lá na frente, seria como coletar e integrar esses dados e várias perguntas começaram a martelar na cabeça dele e do sócio: “Não tem uma máquina, um software, nada que a gente possa comprar no mercado para fazer esse processamento de dados, tem?”. Então, era hora de desenvolver. Esta era a primeira vez que Damico se apaixonava por um problema. “Esse momento foi muito marcante para mim, porque juntou num desafio tudo que eu sabia fazer e, ali, eu pensei pela primeira vez na ideia para a SciCrop”, diz.
Enquanto Damico matutava sobre sua próxima startup, longe dali essa mesma visão levaria a família Mendonça de Barros a criar a MBAgro em 2005. ”Há muito tínhamos uma visão de que a análise de dados em grandes volumes e a capacidade de desenvolver algoritmos para resolver problemas concretos do agro seriam elementos vitais para o novo salto da agricultura no século XXI”, comenta Alexandre Mendonça de Barros. Antes disso, a revolução tinha ficado por conta da biologia (melhoramento genético de plantas e animais), da mecânica (implementos agrícolas, tratores, colhedoras) e química (fertilizantes, defensivos). Agora, era a vez da agricultura digital despontar.
Além do filme Twister, o sistema Tamandaré, criado por ele, foi fundamental na gestação do conceito da nova empresa. Tamandaré é um Deus indígena que aparece no livro “O Guarani”, de José de Alencar, para salvar os protagonistas, Ceci e Peri, de uma inundação. A salvação chega na forma de uma folha de palmeira. Fazendo uma analogia entre seu programa de computador e o romance de época, Damico brinca: “No meio da inundação de dados, quem te ajuda a navegar é o Tamandaré”.
O Tamandaré foi um sistema que ele idealizou para centralizar informações, matando dois coelhos da Era Digital com uma cajadada só: o problema da dispersão e da falta de um ambiente para cruzamento de dados. “Fiz do Tamandaré minha persona digital, que buscava absolutamente todos os dados abertos na internet que eu queria e me permitia conectá-los”, afirma. Na SciCrop, o primeiro uso do Tamandaré se deu na coleta e análise de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O Tamandaré foi a célula mãe da atual plataforma da empresa, a SciCrop AgroAPI, quando o nome SciCrop ainda nem existia. A ideia para o batismo de fogo, contudo, sempre girou em torno dos sinais provenientes dos dados. Que tal Signal? Que tal Agrométrica? Talvez já tivessem pensado nisso, e já tinham. Lendo as páginas dos jornais, Damico assistiria à criação da Divisão Crop Science da Bayer. Na sua empresa, essa seria uma inspiração para um conceito que vai além do agronegócio. “O nome é SciCrop porque eu pensei em montar algo baseado em ciência e tecnologia, com safras de ciência e tecnologia, em que o agro nasceu como a primeira vertente”, explica.
Em tempo real, a SciCrop AgroAPI coleta e analisa dados de clima, solo, manejo, pragas, doenças, logística e mercado, funcionando como uma vitrine integrada de informações que derivou em uma série de outros serviços. Somente no ramo agrícola, a SciCrop dispõe de sete soluções. A startup oferece desde um serviço que conecta máquinas e implementos em áreas remotas à internet via satélite (WebFarms) até um Sistema de Informação Geográfica para a prática da agricultura de precisão com um dos valores mais baixos do mercado (FarmGIS). A ideia, segundo o fundador, nunca foi reinventar a roda, mas extrair o máximo dos dados disponíveis no mercado. Feito isso, agora, a SciCrop quer ir além.
Dados gourmet para problemas impossíveis
“De qual dado estou atrás? Qual problema eu vou ter que resolver para chegar onde eu quero? A gente é uma empresa que vai se nutrindo de soluções e que procura os dados onde quer que eles estejam”, diz Damico. “Nosso objetivo é dar várias peças de lego na mão do cliente, para ele montar o que ele quiser. É permitir que eles não tenham mais que fazer o trabalho braçal de organização dessas informações e possam se dedicar ao seu core business”, emenda Ferraz.
Alexandre Mendonça de Barros concorda em gênero, número e grau: “Nesses anos todos no agro aprendemos muito, especialmente a identificar quais são as PERGUNTAS relevantes a serem respondidas. Vejo muito esforço sendo feito por empresas que querem atender o setor, mas que criam respostas prontas não necessariamente para as perguntas corretas”, diz o sócio da MBAgro. “O digital é traiçoeiro. É muito fácil se perder num mar de dados e não tirar conclusões práticas daí. Parece simples, mas é uma mistura bonita de arte e ciência”, acrescenta Barros.
A meta da SciCrop é crescer como provedor de Analytics, para dar conta de toda a infraestrutura de dados das empresas do agronegócio. O diferencial é como vêm construindo sua plataforma e como enxergam os dados. “Nosso produto pode até ser invisível, mas é daqueles que o cliente não fica sem. Já em relação aos dados, a gente tem uma visão de autonomia e dominância, para garantir a qualidade do que entra e do que sai da nossa plataforma”, explica Damico.
Com o investimento recente levantado na Eqseed, plataforma de financiamento coletivo, o marketplace SciCrop AgroAPI foi repaginado, dando maior autonomia para o próprio mercado contratar a implantação e consultar diretamente os mais de 300 algoritmos, ferramentas e sistemas de integração de dados que atendem às suas demandas. A mudança já atrai novos perfis de clientes, como empresas de tecnologia do agronegócio que precisam de Analytics para extrair maior valor para seus próprios clientes; grandes empresas que haviam decidido trilhar sozinhas o caminho da análise de dados usando inteligência artificial e Analytics; além de startups ligadas ao monitoramento de garantias no agro ou especializadas em modelos de crédito para produção agropecuária.
Com um cardápio amplo de algoritmos e dados prontos para a consulta — que otimizam da logística à regularização ambiental, práticas ESG e previsão pluviométrica — a SciCrop vai investir agora na autonomia da coleta de novas informações climáticas. Nas suas planilhas, as variáveis de clima são as mais importantes para entender o ciclo produtivo do agronegócio, o que inclui temperatura, pressão atmosférica, pluviometria, radiação solar, entre outras, que demandam um grande volume de coleta para gerar “outputs” que realmente importam.
Tem um ditado sobre aprendizado de máquina que diz: “garbage in, garbage out”. Isto é, lixo entra, lixo sai. Não importa o sistema que você tem, se o dado não é de qualidade ele não vai resolver o problema. “É tão óbvio e não tem ninguém discutindo colocar um satélite de clima em órbita. Por que? Porque é uma baba, custa uns US$150 milhões, tem o tamanho de uma kombi, pesa 2,5 mil quilos e tem que ficar a média órbita”, explica Damico. Mas, felizmente, essa não é a única forma de coletar dados climáticos mais precisos nas fazendas. De acordo com o empreendedor, são três as opções: coletar dados usando sensores de campo, trabalho humano ou aparatos remotos, como drones e satélites.
Investindo cerca de US$ 100 por estação meteorológica e com umas 5 mil a 10 mil espalhadas pelo país, num projeto de R$ 2,5 milhões a R$ 5 milhões, Damico calcula que daria para aumentar a acurácia dos “outputs” de previsão climática da SciCrop AgroAPI em relação ao que se tem hoje usando dados abertos. Dados estes cujas fronteiras são delimitadas por municípios, o que não atende às necessidades do campo.
“É muito comum o produtor dizer que só choveu num pedaço da sua fazenda, mas que pedaço é esse? Ele pode ficar em dois municípios. Esse dado é muito específico”, diz. Não bastasse isso, as estações meteorológicas nas zonas urbanas captam dados novos a cada três horas e, segundo Damico, com uma estação própria para atender o público rural, esse intervalo não deve passar de um minuto. “Você imagina, então, como aumenta a minha precisão e capacidade de observações quando posso captar pequenas alterações no clima ao longo do dia, em diversos lugares e regiões ao mesmo tempo. Isso vai trazer explicações muito melhores sobre o comportamento climático”, diz o empreendedor.
— Ah, mas então a SciCrop vai ser uma startup de clima agora?
Essa é uma das perguntas que surgem quando Damico narra a história das estações meteorológicas e do seu desejo futuro de colocar, quem sabe, um satélite em órbita. A resposta é: Não! Diante de tabelas rascunhadas por todos os cantos na SciCrop, Damico recorre a mais uma, desenhada em uma folha de papel, para ilustrar seu ponto.
“Está vendo aqui? O clima é uma das variáveis da minha tabela. Se eu estivesse olhando para um Excel, seria uma coluna de informações. De novo: De qual dado estou atrás? Qual problema eu vou ter que resolver para chegar onde eu quero? A gente não faz modelo de clima, mas permite que uma startup do setor faça. Não faz modelo de crédito, mas dá subsídios para que as agfintechs façam, e assim por diante. Queremos ser provedores de dados que ninguém tem, por isso nosso concorrente vai virar nosso cliente”, diz.
Navegando para novos mercados
Entre o final de 2021 e o início de 2022, a SciCrop vivia uma de suas melhores fases — depois de levantar os R$ 2 milhões do financiamento coletivo e, nas palavras de Ferraz, levar para dentro da empresa 198 novos investidores, ou melhor, “vendedores de SciCrop, muitos deles fãs ou early adopters da tecnologia” — quando Damico teve um novo revés de saúde. Com um quadro grave de covid-19, ele ficou um mês internado no hospital e precisou ser entubado. Prestes a receber o respirador, perguntou para a enfermeira: “Agora resolve?”. Ao que ela respondeu: “Agora a gente torce”. Dois dias depois, ele voltaria a respirar sozinho, mas não ficaria sem sequelas, o que descobriu mais tarde.
Damico hoje está convicto de que os melhores dias da SciCrop ainda estão por vir e que há espaço para a entrada de novos investidores no negócio. A SciCrop está aberta a captações principalmente com Corporate Venture Capitals de tecnologia, dada a sua tese de diversificação de segmentos da economia, que podem ir do agro à mineração. “Nossa solução de Analytics pode ser aplicada a diferentes mercados e, por isso, vemos um alinhamento maior com investidores do ramo da tecnologia. No agro, nossa meta é ser o principal provedor, mas há oportunidade de ocupar ainda outros espaços”, diz Damico.
Depois da covid longa, que lhe acarretou um problema de necrose no fêmur, Damico não tem mais medo dos desafios que a vida lhe reserva. “A questão para um empreendedor muitas vezes se resume a ir do ponto A para o ponto B. Mas ninguém provou ainda que o ponto B existe e não há garantia que o negócio vai dar certo. O empreendedor é quem insiste em ir, mesmo assim”.
Para Damico, seu ponto A foi o filme Twister, quando caiu a ficha de que o poder dos dados e da tecnologia era tamanho que permitiria prever o futuro e mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas sobre a agricultura e a sociedade. No ponto B, de maturidade da solução, em que ela chega a mudar o mundo, ele diz que ainda não chegou.
Tendo como uma das suas principais inspirações o navegador português Fernão de Magalhães — o primeiro homem a dar a volta ao mundo e descobrir que a Terra é redonda — Damico considera que já cruzou pelo menos o seu próprio Estreito de Magalhães. Na viagem do navegador português, o trecho da Espanha até o sul da América do Sul, onde está esta passagem, foi o mais difícil da expedição. Depois dali, ele viveria para conhecer um oceano de águas tranquilas, que batizou de Pacífico. Antes de retornar à Europa, contudo, Magalhães morre. E é sua tripulação que garante a realização do sonho de voltar até o ponto onde tudo começou. Para Damico, o time da SciCrop está no caminho para o seu ponto B. “Agora, estamos justamente no meio do Pacífico, diz.
Fonte: https://www.agtechgarage.news/do-ponto-a-ao-ponto-b-como-a-scicrop-quer-transformar-seus-concorrentes-em-clientes/