Entre robôs e rastreabilidade, conheça ferramentas que estão sendo usadas para promover um agronegócio cada vez mais inclusivo, competitivo e sustentável
Por Marina Salles, com colaboração de Henrique Provenzzano e Leonardo Langoni
Nada muda tão rápido a ponto de que não possamos perceber e, por isso mesmo, é tão relevante monitorar tendências. Em 2023, o AgTech Garage News destaca “5 tendências em tecnologia para a cadeia de ag&food”, passando pela robotização do agronegócio, crescimento da rastreabilidade de produtos frescos, hardwares e softwares que ajudam a combater o desperdício de alimentos, soluções para o transporte de carga mais sustentável e os novos usos e aplicações da inteligência artificial generativa ou sintética. Acompanhe:
Robôs dentro e fora da porteira
Diante da escassez de mão de obra no campo, os robôs para agricultura e pecuária têm surgido para dar uma mão principalmente para quem está diariamente com o pé na lavoura. Com a ajuda de câmeras com visão computacional e robôs alimentadores de animais, atividades como a contagem de insetos com pano de batida ou a reposição de ração no cocho, podem ser simplificadas e otimizadas.
Além de economizar tempo e permitir que a força de trabalho cumpra suas atividades de forma mais estratégica, dois dos principais ganhos com essas tecnologias são a precisão e maior inteligência na tomada de decisão. É sobre saber o momento certo de proteger determinada cultura do ataque de pragas e de ir até o confinamento repôr ou mudar a dieta do rebanho.
E a lista não para por aí, entre robôs que já tomaram conta do campo e aqueles que estão prestes a tomar, temos: robôs de ordenha, sistemas de colheita automatizados, drones e veículos aéreos não tripulados, sem falar dos tratores autônomos. Segundo o relatório “Agricultural Robots Market 2022-2027”, do Imarc Group, este mercado girou US$ 6,3 bilhões em 2021 e a expectativa é que triplique de tamanho, atingindo US$ 17,8 bilhões em 2027.
No Brasil, os robôs agrícolas já são encontrados em diferentes setores e etapas da produção. Alguns exemplos são:
1) o Solix, robô autônomo da Solinfitec, que monitora doenças e pragas, além de produzir recomendações para uma agricultura de baixo impacto ambiental
2) o robô Mirã 2 da Embrapa, que facilita e barateia a análise de solo in loco
3) o robô Roboagro Flex Feed, da startup Roboagro, que faz a alimentação automatizada de suínos, podendo trazer uma redução de até 10% com custos de ração
Fora do país, o Robô L, da empresa japonesa Agrist, realiza a colheita automatizada de pimentões e ganhou, em 2023, uma honraria em uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, a CES (Consumer Electronics Show), em Las Vegas, EUA. Um destaque no agro dentro de uma premiação multisetorial.
Fora da porteira, na mesa do consumidor, os robôs também estão ganhando espaço. O CLOi Servebot, da coreana LG, é um exemplo. Ele carrega pratos para ajudar os garçons a servirem os clientes e conta com três prateleiras, sendo capaz de andar para cima e para baixo carregando até 10 quilos de comida. Assista no vídeo:
Rastreabilidade garantida para frutas, verduras e legumes
Cada vez mais, os consumidores ao redor do globo querem saber de onde vem a sua comida. E não é apenas sobre garantir a segurança do alimento, mas também as condições em que foi produzido: se é livre de desmatamento, livre de trabalho escravo. A rastreabilidade é uma ferramenta importante nesse sentido, e que ainda pode ajudar a remunerar os produtores que adotam boas práticas.
Tecnologias como a da startup catarinense AgTrace vêm conectando os elos da cadeia produtiva para fornecer informações confiáveis e em tempo real para produtores, distribuidores, as indústrias e o varejo. Seu mais novo projeto, anunciado no final de 2022, é com o Guaraná Antarctica. O refrigerante começa a ser produzido em Maués (AM) — a 18 horas de barco da capital do Estado Manaus — e percorre longas distâncias até chegar ao copo dos brasileiros e estrangeiros.
A rastreabilidade também está presente na solução da Elysios, startup de Porto Alegre (RS), que permite ao produtor rural de frutas, legumes e verduras ter um caderno de campo virtual, para prestar contas à sociedade e aos órgãos de fiscalização. Ali, produtores e técnicos registram quais insumos utilizam, quando e de que forma. As informações também são coletadas por meio de sensores e estações meteorológicas. Quando conectada a indústrias e cooperativas, a solução também permite dar melhor cadência às entregas de mercadoria.
Hardwares e softwares contra o desperdício de alimentos
Conforme o Programa Mundial de Alimentos (PMA), agência humanitária da ONU, hoje se produz comida suficiente para alimentar toda a população terrestre. Mas, em vez disso, 30% das 4 bilhões de toneladas de alimentos vão anualmente para o lixo e, em 2021, 828 milhões de pessoas foram afetadas pela fome.
O desperdício de praticamente ⅓ do que se produz mundialmente motivou a criação da startup holandesa OneThird, cujo nome deriva do problema. Com um escaneador manual, a startup consegue predizer quanto tempo vai levar para um tomate ou morango estragar e sugerir ações para evitar o descarte precoce. A solução está disponível para testes em produtores, distribuidores e varejistas. Segundo a startup, a tecnologia de varredura infravermelha coleta dados sobre a composição química do alimento, açúcar e níveis de amido para detectar quão fresco ele está e uma tela mostra a classificação de maturação, cuja escala varia de 0 a 100.
Em parceria com restaurantes, padarias e hortifrutis, a paulistana Food To Save consegue dar destino para alimentos próximos do prazo de validade e ajudar o consumidor a economizar até 70%. O novo modelo de negócios, lançado em 2022, prevê a montagem de sacolas surpresa com doces, salgados ou os dois (na sacola mista). Segundo informação do Capital Reset, a cada dez sacolas montadas, oito têm sido resgatadas. O app ganha uma comissão pelas vendas.
Para monitorar de perto a qualidade do alimento desde a produção, diferentes soluções também têm sido lançadas. Entre elas, a da RúmiTank, que monitora em tempo real o volume e a temperatura do leite refrigerado nas fazendas, no transporte e na indústria. Além de garantir a qualidade do leite, o app RúmiTank também visa prevenir falhas no processo de coleta, evitar fraudes e gerar um histórico completo da produção.
Frete neutro, inteligente e sustentável
Superado o desafio de conectar oferta e demanda – no caso do agro, embarcadores de carga e carregadores – as logtechs já apostam em novas tendências, que também podem ser incorporadas pelo setor. O “frete net zero” é uma delas. Outra é a comparação entre prestadores de serviço baseada em emissões.
No caso do frete net zero, o caminho tem sido o de estruturar programas de avaliação, mensuração e compensação da emissão de gases de efeito estufa (GEE). A paulista iTrack Brasil é uma das empresas que opera hoje a partir do cálculo dos quilômetros rodados pelos seus clientes e do inventário de emissões do CO2 equivalente para, depois, propor a compensação, via reflorestamento ou a preservação ambiental.
Na Espanha, a empresa Freightos lançou uma calculadora de emissões de CO2 de frete internacional, que permite aos embarcadores compararem as emissões das transportadoras. A informação vem em conjunto dos preços e capacidade de movimentação de carga. Hoje, a Freightos conecta mais de 30 companhias aéreas e transatlânticos com milhares de agentes de carga. Com a nova solução, a expectativa é que o mercado possa ter mais uma ferramenta para reduzir sua pegada de carbono, optando por fretes mais ecológicos.
A nova era da IA chegando no agro
Desde antes da virada do ano, só se fala no mercado de tecnologia sobre uma coisa: inteligência artificial (fora as demissões nas BigTechs). E, a essa altura, boa parte dos leitores já deve ter tido a experiência de usar o DALL-E 2, da OpenAI, para produzir imagens realistas a partir de textos descritivos. Ou, então, ter lido algo sobre o ChatGPT, chatbot que estabelece diálogos por texto em linguagem natural. Ele também foi desenvolvido pela OpenAI — que recebeu neste 23 de janeiro de 2023 um investimento de US$ 10 bilhões da Microsoft. São duas tecnologias baseadas na IA generativa ou sintética, que vem permitindo aos computadores criar conteúdos originais.
Trabalhos de escola, notícias, imagens para campanhas de marketing como a da Kraft Heinz (assista ao vídeo abaixo), são alguns exemplos do que a IA generativa criou nos últimos tempos.
No agronegócio, na visão de José Damico, CEO da SciCrop, as aplicações também poderão ser múltiplas, como a gravação de treinamentos, redação de documentos e simulação da situação atual e futura das lavouras usando modelagem 3D. Fazendo a ressalva de que não se controle o viés da inteligência artificial, o que suscita questões éticas e morais, Damico vislumbra que, boa parte do que for necessário reportar ou responder no futuro poderá ser feito com ajuda de IA, como da startup Synthesia (clique aqui para assistir ao reels da SciCrop).
Para ter uma visão de outras empresas que atuam no setor, vale consultar o infográfico abaixo, da aceleradora Antler, de Cingapura, que assina um relatório também imperdível “Mapeando o cenário da IA Generativa”. Se o assunto te interessa, não deixe de ler ainda a newsletter “IA Descentralizada e para as massas”, da The Shift (esse infográfico, nós vimos primeiro lá).
Fonte: https://www.agtechgarage.news/5-tendencias-em-tecnologia-para-a-cadeia-de-agfood-em-2023/