Hub de IA do Senai em Londrina possibilitou parceria da paulista SciCrop com Klabin e Bunge em provas de conceito de uso da inteligência artificial
Além de capacitar profissionais no seu programa de residência, o Hub de IA do Senai em Londrina aproxima grandes empresas, chamadas âncoras, de startups que possuem soluções especializadas para os seus desafios na área de inteligência artificial em processos de inovação aberta no programa AI Corporate Innovation.
“É um programa de seis meses em que as empresas colocam as suas problemáticas e o hub vai buscar startups do Brasil com soluções para resolver estes problemas”, explica Henry Carlo Cabral, gerente do Senai Londrina.
Na primeira edição do programa, em 2020, 12 propostas foram selecionadas dentre mais de 250 inscrições de 80 startups do Brasil todo para atender a 23 desafios lançados pelas cinco empresas âncoras participantes – Ambev, Bunge, Klabin, Duratex e Nestlé. A segunda edição do programa deve começar em março.
Devido ao hub, Londrina se tornou o ponto de partida para a concretização de uma parceria entre uma startup paulista – a SciCrop – e duas grandes empresas do setor do agro – Klabin e Bunge.
A SciCrop trabalha com “analytics as a service” para o setor do agro. “Temos mais de 300 tipos de algoritmos que resolvem problemas desde logística, produção de alimentos, otimização de rotas, produção agrícola, predição de produção agrícola e industrial”, explica José Damico, CEO e co-fundador da SciCrop.
Por meio do Hub de IA do Senai, a SciCrop pôde fazer uma prova de conceito para calcular desvios no plano de colheita de eucaliptos e pinus para a Klabin, utilizando imagens de drones ou de satélite para verificar o trajeto realizado pelos tratores.
“Na hora de colher, o trator tem que abrir uma estrada que não existia, e não pode abrir aleatoriamente. É preciso saber se o pessoal que está remoto obedece ao plano de colheita, porque desvios causam problemas de produtividade. Mas tem desvios que precisam ser feitos devido a uma rocha no meio do caminho, ou porque choveu demais. Em quanto menos tempo você medir se as estradas foram feitas de modo planejado ou não ou eventualmente fizer uma correção, mais produtivo vai ser.”
Acontece que voar com drones sobre a região gera custos com equipes no local e pode estar sujeito a problemas de conectividade. Imagens de satélite também são caras e não possuem resolução igual às de drones. O desafio da SciCrop foi encontrar a melhor maneira de medir a aderência ao plano de colheita sem necessidade de um ser humano, utilizando apenas a inteligência artificial. “Provamos que com drone é muito mais fácil descobrir estradas, mas há certos problemas, e provamos que com satélite também dá, mas sob certas condições.” Os resultados da prova de conceito, segundo a Klabin, ainda estão em análise.
Por outro lado, a startup desenvolveu um algoritmo de processamento de linguagem natural para automatizar o processamento de dados relacionados à manutenção de equipamentos. Essa prova de conceito foi bem-sucedida e a Klabin agora avalia os próximos passos para dar escala à solução.
‘ERRAR RÁPIDO E BARATO’
Segundo Renata Freesz, gerente de Inovação da Klabin, os testes realizados com inteligência artificial na manutenção de equipamentos reduziu em até 95% a busca de informações e em 80% o processo de cadastro. Problemas como duplicidade de informações e erros de cadastro também foram reduzidos em 80%, bem como o tempo de conferência do técnico. Para a gerente, a vantagem das provas de conceito é testar uma solução em escala menor, o que gera menos problemas quando os testes não dão certo. “Na PoC (Proof of Concept – prova de conceito) sempre há um risco. A função é testar rápido e se der problema, errar rápido e barato. A função da PoC é ver se a sua tese se verifica e nesse caso deu certo. Tivemos uma série de ganhos. Agora estamos em avaliação sobre escalar esse case, aumentar o escopo e deixar de ser um teste para entrar em escala industrial, e o contrato com a SciCrop cresce.”
As PoCs permitem verificar de forma mais prática e rápida a adequação de soluções inovadoras aos negócios, disse a Bunge, que também participou do programa de inovação aberta do Hub de IA do Senai. Esse foi um dos motivos para a empresa de agronegócio, alimentos e bioenergia participar do programa. “O Hub de Inteligência Artificial reunia as duas características que buscamos em nossos projetos de inovação: um parceiro confiável como o Senai, e o formato PoC para o teste das soluções. Em função dessas características, entendemos que participar do hub seria um caminho interessante para compreender melhor eventuais aplicações de inteligência artificial em alguns processos da companhia, ao mesmo tempo em que damos oportunidade para que startups testem a capacidade de escala de suas soluções.”
Para a Bunge, a SciCrop realizou provas de conceito para prever quando um bom pagador pode se tornar um mau pagador através de IA. “Às vezes um cliente é bom pagador e vai se tornar um mau pagador, e é preciso saber qual é esse ponto de inflexão. Não quer dizer que a empresa deixaria de vender, mas consegue flexibilizar ou endurecer algumas regras com antecedência”, explica o CEO.
“Nossa intenção ao entrar no programa era entender como as aplicações de inteligência artificial podem automatizar processos internos, como leitura de documentos, cruzamento e mineração de dados para avaliar se podemos obter em tempo real informações que são importantes para tomada de decisões relativas, por exemplo, a fluxos logísticos de carga”, disse a Bunge, que considerou os resultados da PoC realizada com a SciCrop positivos. “Nossa intenção, agora, é dar seguimento ao processo, expandindo a aplicação dessa PoC a uma quantidade maior de dados para verificar a consistência do modelo considerando um escopo maior e com mais variáveis.”
COCRIAÇÃO
A inteligência artificial é um dos focos estratégicos da Klabin, especialmente na área industrial. O fato de o hub estar localizado em Londrina, próximo a unidades da companhia em Telêmaco Borba e em Ortigueira, pesou para a indústria incluir o Hub de IA do Senai como parceira para realizar testes com startups na área de IA dentro de suas iniciativas de inovação aberta. “Nossas fábricas maiores e mais relevantes ficam no Paraná”, diz a gerente de inovação, Renata Freesz.
A inovação aberta, na visão da gerente, é uma oportunidade de ter várias “cabeças” pensando em soluções para as dores da indústria. “A Klabin abre seus desafios, suas dores para o mercado como um todo, parceiros, porque entende que várias cabeças pensando podem trazer mais resultados que uma só. Esse é um movimento que a gente vem fazendo há alguns anos, de criar soluções compartilhadas, cocriações, desenvolver em conjunto. O Senai tem ajudado a gente desde o início nos colocando em contato com startups e empresas.” Ao mesmo tempo, a iniciativa atende a um desejo da Klabin de fomentar o empreendedorismo no país ao fazer parcerias com as startups.
Para a Bunge, a inovação aberta permite ter acesso a especialistas de diferentes experiências enquanto a empresa mantém o foco no desenvolvimento e aprimoramento de seus negócios. “Além disso, por nosso porte e posição, quando optamos pela inovação aberta nós construímos um conhecimento que beneficia todo o nosso setor, o que também é importante para a Bunge.”
‘PONTES DE CONFIANÇA’
Esse tipo de aproximação possibilita chegar a uma solução para um problema de forma conjunta quando ainda não há um produto pronto para atender a essa demanda, pontua José Damico, da SciCrop. “É muito difícil ir à mesa de negociação quando você não tem uma solução ‘de prateleira’ para um problema. Por isso, o processo de inovação aberta é fundamental.”
Para ele, programas de inovação aberta servem como “pontes de confiança”, que asseguram que as empresas abram seus problemas sem medo. Na outra ponta, a mediadora faz uma seleção criteriosa de startups para que as empresas sintam confiança de entregar a elas os dados necessários para a solução do problema. “Nessas pontes de confiança que são estabelecidas pelo mediador, todo mundo está na mesma página quando você entra na mesa de negociação. As pessoas são técnicas dos dois lados.”
Fonte: https://portalfuturista.com/inovacao-aberta-aproxima-startup-de-grandes-empresas/