O estudo desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que condições irrigadas, o salto da produtividade do café foi de 60% e o de macadâmia de 251%, em relação aos cultivos solteiros não irrigados.
O pesquisador da Apta, Marcos José Perdoná, explicou que a cultivar de macadâmia HAES 816 foi identificada como a mais apropriada para o cultivo consorciado por ter menor crescimento horizontal, por precisar de pouca poda e suas amêndoas terem maior rendimento industrial. Geralmente, a noz é formada por 75% de casca e 25% de amêndoa. Esta cultivar tem de 35% a 40% de peso de amêndoa, o que é muito interessante para a indústria”, afirmou Perdoná.
A diminuição no número de podas da árvore de macadâmia é outro ponto avaliado pelos pesquisadores. As outras cultivares precisam de mais podas, para não fazer tanta sombra no cafezal e acabar atrapalhando a produção e a mecanização das operações. “Isso encarece os custos do sistema”, disse.
Em um novo projeto interinstitucional, envolvendo Apta e Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), iniciado em 2015 e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os pesquisadores da APTA, Marcos Perdoná, e da Unesp, Rogério Soratto, trabalham para avaliar a viabilidade da colheita totalmente mecânica no sistema. “Os resultados iniciais são muito promissores”, ponderou Perdoná.
A inovação desenvolvida pela Apta, tem sido usada em diversas regiões, principalmente, nas produtoras de café, como o Sul de Minas Gerais, Franca e Garça, em São Paulo. O sistema, normalmente, é utilizado por cafeicultores que querem diversificar e aumentar sua renda, com a introdução de uma nova cultura. “A macadâmia é fácil de ser conduzida, diferentemente do café, que é uma cultura mais complexa. Sempre orientamos que o sistema seja usado por produtores que já plantam café. A chance de sucesso é maior desta forma”, destacou Perdoná.
Vantagens do consórcioDe acordo com Perdoná, a rentabilidade insatisfatória do café, ocasionada por produtividade insuficiente, produz uma situação de insustentabilidade em boa parte da cafeicultura paulista. “O estudo avaliou o crescimento e produtividade do café arábica em monocultivo e consorciado com macadâmia, com e sem irrigação, assim como avaliou a rentabilidade e o período de retorno desses cultivos para as condições paulistas. A pesquisa fornece importantes informações que podem colaborar na viabilidade da cafeicultura no Estado”, esclareceu o pesquisador.
A explicação para o aumento expressivo na produtividade do café está na arborização das plantas, proporcionado pelas árvores de macadâmia, que protegem das ações do calor e vento, que provocam abortamento de flores e ferimentos nas folhas. “O cafezal sofre muito com a ação dos ventos. O uso da macadâmia pode diminuir em 72% a velocidade dos ventos e em 2,2ºC a temperatura média do ar. Além disso, o uso da irrigação é decisivo na produtividade das lavouras de café no Estado”, disse Perdoná.
Outra justificativa para o ganho da produção do café está na ciclagem de nutrientes. As raízes da macadâmia, mais profundas que as do cafeeiro, resgatam nutrientes que já estavam perdidos. Com a queda e decomposição das folhas, há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis, melhorando ambiente para o cafeeiro. O pesquisador alertou que o ambiente mais úmido também pode causar alguns problemas na produção, como o aumento da ferrugem e broca do café.
A principal dificuldade enfrentada para a expansão da macadâmia no Brasil é o elevado período de retorno do investimento – a noz começa a produzir depois de cinco anos e apenas quando atinge 12 anos tem produção rentável, de 15 quilos de noz por planta. Quando consorciada com o café irrigado, a cultura começa a produzir dois anos mais cedo e aos três anos já tem produção comercial. “O uso de tecnologias, como o cultivo consorciado e a irrigação, são as melhores alternativas para solução deste problema”, afirma o pesquisador.
A produção mundial de macadâmia é em torno de 160 mil toneladas anuais. O Brasil produz seis mil toneladas por ano, sendo São Paulo o maior produtor, responsável por 35% do volume nacional, e maior processador da noz. Cerca de metade da produção nacional é consumida internamente e o restante é exportado. A macadâmia é a segunda noz mais cara do mundo – perdendo apenas para a noz pinoli, usada para fazer molho pesto. Além disso, com a alta do dólar, o produto é ainda mais atrativo, já que possui ampla venda no mercado externo. Perdoná explica que o preço da safra da macadâmia vem crescendo ano a ano. Segundo ele, em 2013, o quilo da noz custava R$ 3,50, em 2014 passou para R$ 5,00, em 2015 para R$ 6,50 e em 2016 atingiu R$ 8,00.
Como conduzir as duas culturas?Normalmente, a implantação do consórcio pode ser feita em três situações. A primeira delas, quando o cafeicultor quer arborizar seu cafezal e ter mais uma fonte de renda, podendo implantar a macadâmia no cafezal já existente. Outra opção é quando o produtor quer produzir macadâmia e implanta o café para pagar os investimentos iniciais da produção do pomar da noz. Depois que a macadâmia começa a produzir, o produtor pode retirar o café do campo.
O produtor pode, porém, iniciar sua produção consorciando as duas culturas e conduzi-las em conjunto. Para isso, a Apta elaborou o arranjo de plantas adequado para o cultivo integrado dessas duas culturas. Segundo Perdoná, a ideia é ter duas linhas de café solteiro e uma linha com seis plantas de café e uma de macadâmia. “Com isso, por hectare, teremos quatro mil pés de café e 200 árvores de macadâmia”, afirma. Nesse sistema, há a possibilidade de fazer a mecanização de todas as operações.
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento.