Menos de 60% do crédito para armazenagem ofertado nos últimos quatro anos foi acessado e a suspeita do setor produtivo é de que os limites baixos de financiamento, os juros altos e as duras garantias exigidas pelo bancos tenham inibido os produtores. Diante disso, em Goiás, 40% do milho que começa a ser colhido vai ficar sem armazenagem.
Na propriedade dos irmãos Tadeu e Felipe Royer em Padre Bernardo, leste de Goiás, a expectativa é colher mais de 40 mil sacas nos 400 hectares plantados. No entanto, eles estão sem nenhum armazém para guardar toda essa produção e, para não vender o produto por um valor muito baixo, a solução encontrada foi o armazenamento em silos bolsa, que são mais baratos do que o aluguel em estoques privados.
Apesar do preço mais interessante, existem os riscos de estoque em bolsas, incluindo a perda de qualidade do grão. Por esse motivo, construir o próprio armazém é um dos planos dos irmãos, que ainda não colocaram a ideia em prática por causa do custo elevado. “Na próxima safra a gente pretende entrar com os projetos para tentar adquirir os armazéns, que é fundamental para o produtor conseguir negociar na melhor hora. Desde que eu tenha um financiamento a longo prazo e com as taxas de juros adequadas, ele acaba se pagando ao longo dos anos”, disse Felipe Royer.
O caso dos irmãos Royer não é o único. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), faltam armazéns para estocar 40% da safra de grãos em Goiás, sendo que apenas 8% desses silos estão dentro de propriedades rurais e dos demais pertencentes às tradings e cooperativas.
Desde a safra 2013/2014, o Mapa ofertou R$ 12 bilhões para subsidiar investimentos em armazéns, mas o valor acessado no período não chegou a R$ 7 bilhões. As taxas de juros para o programa variaram e vão cair para 6,5% ao ano na próxima safra, contra 8,5% da atual temporada.
O governo, no entanto, não sabe explicar o motivo pelo qual o crédito destinado à armazenagem é cada vez menos acessado pelos agricultores. Uma hipótese é a incerteza gerada pelo atual cenário econômico do país. Ainda assim, o Mapa acredita que a taxa disponibilizada para a próxima safra, de 6,5%, é atrativa.
Por outro lado, o setor produtivo e a indústria de armazéns discordam. “Os juros são baixos aqui no Brasil, mas ainda são bem maiores do que em outros países e carregar armazenagem é muito complicado”, disse Alécio Maróstica, presidente do Sindicato Rural (SR) de Cristalina.
Fonte: Agrolink